O Info Luxo entrevistou o professor João Braga, pesquisador e especialista em História da Moda, da Arte e do Luxo. Imortal pela Academia Brasileira de Moda, professor da FAAP e Santa Marcelina, palestrante, autor de inúmeros livros e colunista da revista L´Officiel Brasil.
“O Luxo: Significados e Conceitos”
IL: Professor, o que significa luxo? Qual a origem da palavra e do conceito?
JB: Luxo provém de “luxus”, em latim, e etimologicamente significa fausto, esplendor, opulência, magnificência. Tem o significado conceitual de trazer um diferencial de prestígio secular a quem preconiza e pratica estes valores. Se, outrora, já foi algo associado a acúmulo e visualidade exuberante; hoje está associado às experiências incomuns e discrição.
IL: Das origens aos dias de hoje, houve mudança deste conceito?
JB: Sim, as práticas dos valores que regem o universo do luxo mudam com regularidade. Quando algo que até então era considerado luxo, ganhou certa democratização, um outro algo de caráter superior irá se sobrepor àquele em foco. O luxo não traz em si a característica de se popularizar. Dentro do seu universo, o luxo traz aspectos de diferenciais. Somos todos iguais e, mais cedo ou mais tarde, vamos virar pó, voltando às origens, mas no mundo secular e material, o ser humano tem vontade de se sobrepor a seus pares e de ser reconhecido por diferenciais de prestígio. Portanto, o luxo sempre se reinventa para manter as suas próprias características de diferenciação. As mudanças conceituais do luxo aparecem de acordo com valores de cada ar dos tempos (Zeitgeist) mas, a tal essência de diferenciação que rege este universo seletivo permanece como característica geral.
IL: O luxo incorpora a beleza, a elegância e o brilho. O senhor pode nos dizer algo sobre o significado de cada conceito?
JB: Sim, o luxo envolve um esplendor, um impacto ou mesmo uma certa reflexão (caso o envolvido se permita a tal) tanto em quem observa quanto em quem o pratica. É algo de encantamento para uns e deslumbre para outros e, portanto, nos proporciona sensações inesperadas. Uma das premissas do luxo é o convencimento para “beleza”, que na sua origem etimológica a palavra significa uma aproximação ao plano divino. “El” , em sânscrito, significa “Deus” e, sendo assim, a beleza na sua verdadeira essência nos aproxima a Deus e Sua perfeição. No que diz respeito à “elegância” , há também a premissa do divino pois o “El” de elegância também significa Deus. Elegância é estar revestido da aura de Deus, proporcionando a quem te observa uma elevação ao plano divino, em especial pelo comportamento de um indivíduo e nãosomente, como a maioria das pessoas entendem, pela aparência visual. E, quanto ao “brilho” , entende-se que seja algo que sobressai e chama a atenção por si só. O brilho nos encanta e esta prerrogativa do encantamento é de ordem pré-histórica pois, uma lâmina d´água brilha à luz do sol, da lua, do fogo e, onde havia água, havia a possibilidade da vida. É uma questão de sobrevivência. Por isto, inconscientemente, o ser humano ainda tem o fascínio pelo brilho. Beleza, elegância e brilho em suas respectivas essências de origem e entendimento superior e imaterial provocam arrebatamento, que é um estado de profundo êxtase e elevação espiritual; ao passo que no seu entendimento secular fica associado somente à aparência e, normalmente, é o reconhecimento do senso comum.
IL: O que é o luxo para o senhor?
JB: Luxo é algo que nos proporciona uma experiência única, diferenciada e memorável pelas suas próprias características como beleza, qualidade, encantamento, raridade, diferenciação, esplendor entre outras premissas. Luxo é algo associado mais aos desejos do que às necessidades. Não é somente acúmulo, mas, especialmente, algo que promete e se compromete em suas experiências.
Por Cynthia Camargo
