Imagine derramar água fervendo nas pernas de um tetraplégico só para ter a certeza de que ele não sente nada abaixo do pescoço ou cortar o seu bigode de forma a deixá-lo a cara de Hitler cabendo ao homem apenas mostrar sua indignação através do semblante de perplexidade. Não fosse uma produção inspirada e engenhosamente bem concebida, o filme Intocáveis, produzido em 2011, provavelmente teria algumas das cenas mais revoltantes da história do cinema contemporâneo. Graças aos diretores Eric Toledano e Olivier Nakache e à comovente interpretação de Omar Sy, a história tornou-se uma divertida e emocionante comédia e uma das maiores bilheterias do cinema francês nos últimos anos.
A nova reunião destes três talentos deu origem à Samba, filme em cartaz nos cinemas brasileiros. Samba é um imigrante senegalês que vive há uma década em Paris fazendo pequenos serviços. Na busca pela regularização de sua situação e sempre sonhando com uma vida melhor e mais digna, Samba conhece Alice e tenta provar que o amor pode ser maior do que qualquer tipo de barreira seja ela geográfica, financeira ou social.
O filme utiliza o humor para discutir problemas evidentes na França, como a discriminação sofrida pelos imigrantes e a eterna luta entre as classes sociais. Pesa contra a produção, a necessidade de se fazer um filme brilhante como foi Intocáveis, o que torna alguns momentos forçados demais. Entretanto, o elenco em perfeita sintonia, uma discussão interessante sobre sonhos e desejos humanos e doses generosas de comédia fazem de Samba um ótimo filme. Imperdível mesmo para quem não gosta de sambar.