Cinema e teatro estão entre as artes mais adoradoras e populares do mundo. Embora muitos sejam os pontos em comum, mais ainda são as diferenças que separam esses dois universos tão distintos. O teatro é delicado, o cinema violento; no teatro o silêncio fala mais que as palavras, no cinema pirotecnia e barulho parecem ser itens obrigatórios nos filmes modernos.
Essa distância entre as artes, talvez, seja uma dos fatores que mais contribua para a existência de tão poucas produções cinematográficas que abordem o mítico mundo do teatro. E esse é exatamente a ousadia a que se propõe o diretor Roman Polanski com A Pele de Vênus, filme em cartaz nas salas de projeção do Brasil. A trama escolhe o caminho da simplicidade: em um teatro velho de Paris, uma atriz tenta convencer seu diretor que ela é a escolha certa para estrelar uma peça.
É justamente no embate entre o antagonismo do diretor e da atriz que o filme ganha a sua força. Ela é sedutora, mas inconveniente; ele é centrado, mas repleto de medos e inseguranças. E, assim como em uma empolgante peça de teatro, o público se torna um expectador privilegiado desse drama moderno que, ao abordar a relação entre atriz e diretor, estende seu foco narrativo para as interconexões entre o cinema e o teatro.
Roman Polanski é conhecido tanto pelo talento quanto pelas polêmicas de sua vida e, com esse filme, oferece ao público a oportunidade de mergulhar no seu universo artístico e pessoal e sair de lá com a nítida sensação de que foi brindado por uma obra-prima.