Philippe de Nicolay Rothschild é de uma família tradicional na França, que há mais de 160 anos controla um império que vai de bancos a vinícolas. Sua vida é cheia de histórias curiosas, principalmente durante sua infância, quando conviveu com celebridades como Salvador Dalí, Maria Callas, Liza Minelli e Audrey Hepburn, amigos próximos de sua mãe, a socialite parisiense Marie-Hélène de Rothschild.
Em 2013, Philippe resolveu transformar sua paixão por vinhos em negócio e fundou sua importadora de vinhos, a PNR Import (iniciais de seu nome). Ao analisar o mercado brasileiro, percebeu que o segmento praticava preços altíssimos por causa dos impostos e com total acesso à produção dos vinhos de sua família, pensou em oferecer o que há de melhor no mundo dos vinhos, a preços mais acessíveis.
Inicialmente, a PNR Import priorizou os vinhos de sua família, produzidos nos castelos de Lafite, em Bordeaux, e os champagnes Barons de Rothschild, todos da França. Para os amantes de vinhos, o emblemático símbolo com 5 flechas que virou uma espécie de marca registrada.
Com o tempo, Philippe começou a fazer uma seleção de rótulos de outros produtores, inclusive de outros países, para ampliar as possibilidades e dar um maior acesso aos consumidores.
Ter uma importadora de vinhos com preços diferenciados, realmente é um motivo para investir em nosso país. Mas existe algo sobre o mercado nacional, em relação à visão de consumo dessa bebida, que te chamou a atenção?
Eu investi em uma importadora porque queria divulgar no Brasil os vinhos do grupo Lafite. Na época, só o Chateau Lafite, que é nosso carro chefe, era conhecido, mas temos uma gama inteira de vinhos, de preços bem variados, que eram poucos conhecidos. Eu também identifiquei uma grande lacuna no mercado brasileiro: a falta de vinhos de bom custo/benefício que não estavam sendo importados, por isso, nos últimos quatro anos, eu e minha equipe temos nos dedicado a descobrir rótulos que funcionem e atendam ao paladar – e bolsos – de todos os clientes.
Na sua opinião, o paladar brasileiro se adequa ao estilo de vinho europeu? Existe alguma adaptação para que o vinho estrangeiro seja apreciado da melhor maneira?
O paladar se forma quando você prova vinhos. Qualquer pessoa, a qualquer momento, pode aprender a apreciar um vinho. E é importante destacar que cada um tem o seu próprio paladar, por isso não se deve nunca criticar uma pessoa, falar que ela está errada, se ela não gostar de um vinho. Dá para criticar se ela não provar o vinho, mas se prova uma, duas ou três vezes e realmente ela não gosta, temos que respeitar o seu gosto. Vinho europeu, americano, australiano, dos nossos vizinhos chilenos e argentinos, cada tem suas próprias características, mas o importante é saber respeitar o paladar de cada consumidor.
Sempre “se falou” muito que o vinho seria uma bebida elitizada e com poder de degustação mais apropriada para um público menos jovem. Hoje vemos uma movimentação oposta: cada vez mais os jovens se rendem aos vinhos e a conhecer marcas renomadas. Como enxerga esse conceito?
Eu nasci em uma família produtora de vinhos por isso, desde pequeno, estou acostumado a ver esta bebida presente nas refeições. Este costume é altamente difundido em países europeus: é muito comum ver famílias reunidas ao redor da mesa, para almoçar e jantar, e ter sempre uma garrafa de vinho. Eu, particularmente, acho que o vinho faz muito menos mal que qualquer bebida destilada. E não o considero elitizada. Tá certo que o próprio mercado brasileiro o posicionou entre marcas de luxo, mas acho que este movimento dos jovens, de descobrirem o vinho, muito positivo. Quanto mais cedo eles conhecerem e desenvolverem o paladar para isso, mais isso se tornará um hábito dentro das famílias. É costume passado de pai para filho.
No mercado do luxo falamos muito sobre a magia da experiência diante de qualquer atividade: seja ela durante uma compra, uma viagem ou até mesmo provando um novo sabor da gastronomia. No seu entendimento, que tipos de experiências sensoriais e memoriais, o vinho proporciona?
Acho que o vinho mexe com os sentidos da visão, olfato e paladar. Assim que pegamos um vinho, a primeira interação é com os olhos: você olha a cor, chacoalha a taça para ver o que chamamos de “lágrimas”; na sequência, leva a taça no nariz para sentir todos os aromas, e que pode ser uma experiência sensorial incrível, pois ativa muitas lembranças. E o ápice se dá quando toma um gole e sente toda a sua expressividade na boca. Mas o sentido maior, inexplicável, é que o vinho toca o coração, a alma, esta é a magia maior. Eu costumo dizer que o vinho não é um produto de luxo, ele é um produto da vida. Todos os dias, é possível comprar uma garrafa que custe menos de 100 reais e achar um prazer que nem uma outra bebida proporciona.