No decorrer da história, as pessoas encontraram as mais variadas formas para manifestar sua revolta frente a um estado opressor e totalitário. Alguns utilizaram a violência e a guerrilha armada para mostrar sua indignação, outros preferiram armas menos letais como papel e tinta para legar à posteridade suas inquietações. Houve, também, aqueles que se manifestaram através das artes e aliaram o processo de criação à luta pela liberdade.
Este é o tema do filme O dançarino do deserto, em cartaz nos cinemas brasileiros. A produção conta a história de Afshin Ghaffarian, um iraniano cujo maior sonho é se tornar um dançarino. Entretanto, existe um grande problema ser encarado pelo rapaz: em seu país, dançar é contra as leis. O jovem, então, tem a ideia de montar uma companhia clandestina de dança que ensaia à margem da legalidade inspirada em coreografias de Michael Jackson e Gene Kelly. A saída encontrada pelo grupo para expor sua arte é, justamente, fazer uma apresentação em meio ao deserto.
O filme é falado em inglês e produzido por americanos, por isso é fácil perceber o olhar quase turístico com que o filme retrata tradições e costumes que, para grande parte do ocidente, parecem muito estranhos. As cenas de dança são de uma beleza inquietante e mesmo aqueles que não gostam de corpos em movimento devem se encantar com a delicadeza e plasticidades das coreografias apresentadas.
A crítica social, porém, fica deslocada em meio as discussões sobre a arte e a dança. O filme aborda as dificuldade de viver sob um governo repressor e olha com carinho para uma população refém de um estado dominante. A alternativa de redenção, porém, nunca se apresenta de forma coletiva e sim individual, através do artista que precisa se manifestar através da dança.
O filme é bonito, bem realizado e deve despertar emoções ainda maiores nos apaixonados pelas performances artísticas. Mas, em termos de realidade histórica, é uma espécie de dança no escuro.