Quem visita a Cave do Sol, no Vale os Vinhedos, se depara com um monumento moderno, contemporâneo. Mas ao conhecer mais de perto a vinícola descobre que o empreendimento está impregnado de arte e história. Antigas peças e equipamentos da vinícola desativada deram origem a obras de arte pelas mãos de artistas locais. Ao todo são 18 peças de diversos portes que fazem um caminho que passeia pelo jardim da empresa e por vários ambientes internos. Oito delas acabam de ficar prontas, juntando-se às demais que estão no local desde a inauguração da vinícola no início de setembro. Todas têm o Sol como protagonista.
Na área externa, o anfitrião Sol Negro, as Uvas ao Sol e os Destiladores ganham a companhia do Jardim do Sol, uma coleção delirante de plantas de diferentes formatos e cores vibrantes. Construída com peças de diversos equipamentos antigos, a obra nasceu para alegrar os visitantes e homenagear a natureza local. A inspiração partiu de plantas originais da região, mas as cores foram escolhidas pelo próprio artista, Rubens Sant’Anna. A obra está localizada ao lado do espaço pet. Ainda na parte externa está o Painel Solar de Controle, próximo ao Destilador. A peça representa a complexidade do processo que foi e está cada vez mais complexo. São operações que exigem controle de pressão, de temperatura, de vazão. Hoje, peças esquecidas e superadas, testemunhas de uma era que foi determinante na evolução do que se tornou automação.
Ao entrar na vinícola, entre a loja e a vinheria, está a Prensa Solar, uma antiga e preciosa peça que já foi prensa para a extração de suco. Colorida pelo tempo, traz o verde que remete à natureza e a ferrugem que cobre as partes metálicas. Por frestas onde corria o sumo, agora surgem raios de sol que despertam com a aproximação dos visitantes e descansam até um novo espetáculo ao se afastar. A obra ganha vida com luminotécnica.
A maior concentração de peças está na Cave. O Esquadrão Solar, tal qual escudos que defendiam e bloqueavam os bravos centuriões romanos, agora exibe tampas de piletas que se divertem irradiando luzes dançantes a todos que delas se aproximam. O Sol Estrelado é curioso, pois um dia serviu de distribuição de água e de repente se transforma em Sol e estrelas. Para o artista, quando o Sol está acordado, incontáveis estrelas se somam ao seu brilho, e o Astro Rei passa a dominar a escuridão da noite, tendo como companhia as estrelas que se recusam dormir.
Ainda na Cave está O Mil Folhas de Raios de Sol. Usado para o processo de resfriamento por onde passaram milhões de litros de água, agora ganham a companhia dos raios de Sol, dando movimento a uma dança ilusionista luminosa. Manhosos, os raios exigem companhia, repousando quando solitários. Já as magníficas peças que libertaram milhões de litros de suco de uva e vinho confinados em tanques e piletas, se transformaram no Lança Raio Solares, torneiras que hoje lançam raios de Sol ao serem provocadas.
Por fim, a Roda Sol. Localizada na Sala do Sol da Cave, esta obra foi construída com o aproveitamento de duas peças: uma pesada chapa de ferro colorida de ferrugem pelo tempo e uma roda que movimentou correias e esteiras para transportar milhões de litros de suco e vinho ao longo de décadas. Assim como nas demais obras, o artista trabalhou a luminotécnica, criando efeitos mágicos de luzes e tons com a aproximação do visitante. É o Sol saudando todos que se aproximam. As obras da coleção de sucatas de arte da Cave do Sol foram criadas e executadas por Rubens Sant’Anna que contou com o Studio Luminescence na parte da luminotécnica.
As Uvas do Sol, um painel medindo 4 metros x 2 metros, que fica no restaurante ao lado do Solarium, foi feita a quatro mãos. Rubens Sant’Anna e Aido Dal Mass assinam a obra que simboliza um cacho de uva, onde os frutos são representados pelos discos do destilador. Além disso, as paredes da cave são revestidas com tijolos da vinícola desativada e a madeira das antigas pipas de até 110 mil litros de vinho deu vida ao mobiliário, um testemunho de que não há vinho sem história. Isso sem contar as dezenas de objetos distribuídos pelo roteiro da visitação, peças que fazem a cronologia do vinho. Quem visita a Cave do Sol degusta arte o tempo todo, da taça a cada detalhe da visita. A abundância do acervo foi inspiração para envolver artistas locais. A Cave do Sol é a única vinícola do Brasil a seguir esta proposta.