Viajamos até a pequena cidade de Alençon, na Normandia, a cerca de 200 km de Paris, classificada como “Patrimônio Notável”, para ver de pertinho um dos maiores símbolos do Savoir-Faire francês: a Dentelle (renda)! Então, convidamos você a embarcar nesta trama (em linho, algodão e devoção), entrelaçada à vidas que se deram ao luxo de fazer o melhor.
A arte da “Rainha das Rendas”
Em 1650, Marthe de la Perrière, uma rendeira da região, com o objetivo de aperfeiçoar esta delicada arte, incentivou os seus jovens aprendizes a criarem uma técnica própria. Aos poucos, foram criando a renda de ponta Alençon, uma renda de agulha extremamente fina, que oferece uma qualidade única e rara.
Em 1665, o ministro de estado de Luís XIV, M. Jean-Baptiste Colbert, decidiu estabelecer uma Manufatura Real em Alençon, colaborando assim, a transformar o “ponto de renda Alençon”, em uma apreciação unânime. Na primeira Exposição Universal de Londres, em 1851, “Alençon Point” é reconhecida como “rainha das rendas”. Ao longo dos séculos, este savoir-faire das rendeiras foi transmitido através do ensino tradicional: oral e gestual.
Hoje, apenas o Atelier National du Point d’Alençon, criado em 1976, trabalha com as suas nove rendeiras para preservar este saber único. Estas rendeiras levam entre dez e doze anos para dominar esta arte, que é feita exclusivamente à mão, uma vez que nenhuma máquina consegue reproduzi-la.
Além disso, são necessárias de 7 a 15 horas para tecer o equivalente ao tamanho de um selo postal! Famosa em todo o mundo pelos seus pontos estreitos e pela multiplicidade de detalhes, “Point d’Alençon” é inimitável. Desde 2010, está incluído na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO.
O Museu das Belas Arte e Rendas
Instalado desde 1857 em um edifício do antigo colégio jesuíta, o espaço reúne belíssimas obras de arte que dividem o espaço entre as rendas.
Além de descobrir as 10 etapas de extrema complexidade, para confecção da renda, contemplamos um inimaginável véu de noiva do século XIX. Medindo 3,50m de comprimento e 2m de largura, inteiramente confeccionado com ponto Alençon e agulha. Estima-se que seu projeto tenha exigido entre 350 mil e 500 mil horas, o que representa um ano de trabalho para cerca de uma centena de rendeiras.
Ver de perto e compreender cada etapa deste trabalho é entender, de fato, a extensão de seu significado, imergindo em sensações que validam tudo aquilo ao que esta plataforma se dedica, pesquisa, estuda e entrega!
As rendeiras trabalham somente na parte da manhã com a luz que favorece e não desgasta a visão, além de tecerem com fones de ouvido para abstraírem-se, tecendo pequenos rendados para presentear chefes de estado e para o Palácio Elysées (residência do Presidente da República), para que os convidados possam apreciar a riqueza dos detalhes. É claro que existe uma lojinha e, é claro, que a nova sede do Infoluxo terá enquadrado um pequeno exemplar desta obra de arte!
Santa Tereza
A segunda etapa desta imersão, foi conhecer a casa da família Martin. Curiosamente, a dona da casa, Zélie Martin, além de ser uma grande rendeira, deu à luz a uma santa!
Uma grata surpresa nos aguardava quando chegamos à casa natal da Santinha, muito querida mundo afora: duas irmãs brasileiras da comunidade “As Carmelitas do Espírito Santo”.
Missionárias, uma delas nos guiou pelo lar da família, contando histórias em meio a cantos que nos envolviam ainda mais neste propósito de vida da cidade e que M. Colbert e, até mesmo, o Papa souberam reconhecer: Fazer Bem-Feito e com Devoção.
Os pais de Santa Teresa trabalhavam com savoir-faire. Ele, um relojoeiro e ela, uma rendeira muito requisitada. Dedicavam-se ao trabalho, à vida em família e à caridade. Suas cinco filhas tornaram-se freiras, incluindo a caçula, Marie-Françoise-Thérèse Martin (1873-1897): Santa Teresa de Lisieux.
Ao entrar na casa, mergulhamos no cotidiano da família Martin, que viviam o savoir-faire em absolutamente todo o seu propósito de vida. Viviam bem, com uma linda casa e além de serem esmerados em seus respectivos ofícios, também honravam outras modalidades deste savoir-faire que possuem o mesmo empenho em sua execução. Um exemplo disto, foi a louça em porcelana, numeradas e assinadas, que a irmã nos mostrou, usadas para a hora do chá. Por outro lado, eram extremamente caridosos aos doentes e famintos e guardavam colchões nos armários em caso de algum desabrigado bater à porta.
A visita termina na capela adjacente, construída em homenagem à canonização de Teresa, em 1925. Ela costumava dizer que mesmo ao pegar uma agulha no chão, faça-o com gentileza, atenção e amor.
É sobretudo graças a esta educação que a filha mais nova, Teresa, se tornará Santa Teresinha do Menino Jesus. Seu livro, “A História de uma Alma” é um dos livros mais lidos no mundo. Em 2025, a cidade irá celebrar o centenário de sua canonização.
Em 2015, o casal, Zélie e Louis Martin, pais de Santa Teresa, também foram canonizados por terem sido um exemplo para muitos cristãos.
Entre estas duas grandes visitas, da confecção da renda a da confecção de uma santa, é possível visitar a Basílica de 6 séculos, construída durante a Guerra dos 100 anos, onde se casaram os pais da santinha e onde ela foi batizada. Também o castelo dos Duques d´Alençon e, por fim, se perder pelas ruas charmosas de arquitetura normanda!
Alençon tem o apelido da cidade das 3 rendas: as rendas em tecido, as rendas em pedra (observando a Basílica) e as rendas em ferro (nas sacadas das casas).
É claro que a gastronomia não ficou de fora e pudemos degustar a culinária local, como funghi e o calvados. Segundo o guia Michelin, “o La Suite restaurante é um bistrô moderno e elegante, para experimentar pratos sazonais gauleses, inteiramente feitos do zero e retrabalhados para se adequar ao paladar de hoje, com uma ambição primordial: comida deliciosamente boa”
Para gestores do mercado do luxo, a visita é indispensável.
O Infoluxo viajou a convite do Escritório de Turismo de Alençon, através da CCHotels, no Brasil, em outubro de 2024 e foi emocionante!